Tenho pensado muito como deverá ser ter de sair, “fugir” do
meu Pais, já em idade adulta para ter uma vida melhor....não que queira ou que
precise, Graças a Deus...
...mas porque tenho a sorte de estar a assistir ao percurso
de quem o teve de fazer...
...tenho a sorte de ter feito uma amizade com uma família
Ucraniana / Portuguesa (o filho já nasceu em Portugal)...
...ela, a mãe, a minha amiga era Enfermeira no seu País
Natal e largou tudo e veio para Portugal trabalhar...não em enfermagem, mas a
cuidar da casa dos outros...
Em Portugal, não podia praticar a sua profissão...até que
decidiu aos 40 ingressar na Universidade em Portugal para conseguir ter o seu
canudo Português.
Quando ingressou na Universidade, e com mais de 10 anos de
experiência em Enfermagem, pelo que sei, não lhe atribuíram nenhuma
equivalência
(esta questão mexe um pouco comigo...Porquê? a Experiência
noutro País não tem cá nenhuma validade? Seria por ser estrangeira? Não falar o
Português correto? Não sei e agora também não interessa muito, mas que me faz
confusão, faz).
Os meus amigos Ucranianos estão em Portugal há anos e quem
os conhece bem, sabe e sente que são pessoas extraordinárias...embora eles
sintam sempre alguma resistência da parte dos Portugueses em “amigar” com eles.
Não sei, se têm razão, se do lado deles também não haverá alguma resistência ou
se com a idade, as nacionalidades não têm importância nenhuma e o que conta é a
qualidade dos amigos e não a quantidade.
Mas voltando, á Srª Enfermeira: um dia decidiu voltar a estudar,
ir tirar o seu curso Português de Enfermagem...do que assisti, posso dizer-vos
que não deve ter sido fácil:
Lidou com a dificuldade da língua...(o filho, agora com 10
anos, corrigia o PT dos trabalhos);
Teve de trabalhar e estudar e educar um filho (que é só, há
anos, o melhor aluno da Turma);
Lidou com alguma frustração: saber que sabia e que não era
valorizado esse saber;
Lidou com a estupidez humana de todos aqueles que se acham
superiores, e que teimam em não valorizar o esforço humano;
Lidou com dias de cansaço e tristeza e desconfio que houve
alturas em que pensou (só pensou, claro) em desistir...
...mas também lidou com as conquistas de dia para dia, ano
para ano, de notas 10 para 14, 15....
Este fim de semana, a Iryna, benzeu e queimou as suas fitas
de curso...terminou o seu curso e pode praticar Enfermagem em Portugal
...espero que em Évora.
E porque vale a pena contar esta história? Porque me
impressionou a felicidade a comoção com que ela festejou...não foi igual a
todos os jovens que com ela estavam também a terminar o curso...foi tão
diferente.
“Saiu-lhe do pelo” como se costuma dizer e notava-se tanto
isso...
...estava Feliz e aliviada...e no entanto, não parava de
agradecer a presença dos amigos neste dia...para ela foi mesmo importante e
marcante...
...chorou, agradeceu mil vezes, discursou outras tantas
(muito se discursa nas festas Ucranianas!!!), e fartou-se de brindar os amigos
que com ela estavam com “adoro-vos”, “ nem sabem como estou Feliz por estarem
aqui comigo”...
...isto já é tão raro, nos dias de hoje...dar importância às
pequenas grandes coisas que se tem...a Iryna já tem um canudo, mas estava tão
Feliz com ele como com a manifestação de amizade dos seus convidados.
Gosto de observar a Iryna, de pensar no que já passou na
vida e gosto de a tomar como exemplo de que a vida não é um drama, embora
difícil, a força, coragem, a boa disposição, a família, os amigos, podem
torná-la muito mais fácil.
Gosto de ti Iryna ! Também gosto de ti Nelinha (fizemos uma
bela amizade as 3 e não quero nenhuma ciumenta!!!);
Agora, desejo a todas as Irynas de Portugal que consigam
prosseguir com as suas vidas por cá, que possamos ser um País verdadeiramente
inclusivo e que saibamos aproveitar para o nosso bem as Irynas desta vida!!!!
A ti Iryna, terás sempre o meu respeito e amizade....
2 comentários:
Um beijo grande de parabens, por tudo o que conseguiu, para a Senhora Enfermeira Iryna
Amiga sei do que passaste e sei que esse canudo te assenta que nem uma luva por isso muitos parabens
gtande bj Hugo Toya Edgar e Nuno
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